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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

CONSÓRCIO MODULAR DA VOLKSWAGEN



 

O Consórcio Modular é uma forma radical de outsourcing, constituindo-se na transferência de diversas atividades, que, antes, faziam parte das atribuições da empresa, entre esta e seus fornecedores. No inicio da década de 90, deu-se o início da abertura econômica brasileira. Anteriormente o mercado brasileiro era altamente protecionista, onde nossos produtos eram protegidos com altas taxas de importação favorecendo o mercado local.

Outra mudança foi o surgimento do MERCOSUL, mercado comum do cone sul, que permitiria no futuro a comercialização de produtos entre os países membros com taxas de importação menores e em alguns casos nulas, ampliando o mercado de comercialização dos produtos fabricados pelos países membros.  Logo, a abertura econômica e o surgimento do Mercosul promoveram uma oxigenação na indústria automobilística brasileira através de investimentos em tecnologia, novos mix de produtos, ganhos de produção e novas formas de gestão.

O surgimento da Estrutura Modular, nesta nova forma de gestão da cadeia produtiva, o sentido de Parceira significa um forte elo de associação entre as montadoras e seus fornecedores. Todos são responsáveis pelos investimentos e riscos do empreendimento em busca de um resultado comum, permitindo a redução de custos e tempos de produção, aumentando consideravelmente a competitividade dos produtos, além da divisão dos investimentos, custos e riscos entre os consorciados e a empresa líder.

Neste novo modelo podemos levantar várias questões ligadas à forma de Organização do Trabalho, a forma de Organização da Produção e no relacionamento entre a empresa líder do consórcio e seus modulistas e a cadeia de fornecedores. O produto final é dividido em módulos e estes fornecidos e montados em conjunto por empresas, sendo que estas se encontram dentro da mesma planta, confluindo para um produto final. A empresa líder não realiza nenhum tipo de montagem, mas assegura a qualidade final do seu produto. Constitui-se, assim, um caso radical de outsourcing.

Dessa forma, o processo de montagem do produto, que era de responsabilidade do fabricante, passa ser de responsabilidade do fornecedor, denominado de modulista ou consorciado. E cabe ao fabricante ter a responsabilidade da engenharia do produto, do controle de qualidade final do produto, da interface com o cliente, da distribuição do produto, da comercialização e do marketing. Os consorciados têm a responsabilidade de fornecer e montar o módulo ou sistema e garantir a qualidade dos mesmos. No Consórcio Modular é fundamental entender a escada de transformações das relações entre a montadora e os consorciado.

Considera-se que o surgimento do primeiro Consórcio Modular, deu-se na indústria automobilística brasileira na fábrica da Volkswagen em Resende, no Rio de Janeiro.

O projeto do Consórcio Modular implementado na fábrica da Volkswagen é um projeto idealizado por Jorge Ignácio Lopez de Arriortua, que anteriormente trabalhava na General Motors onde já estudava estas inovações na forma de organização industrial. É importante ressaltar que a própria empresa já tem experiência com a estrutura modular, como na fábrica da Skoda na República Checa que fabrica o modelo Fenícia, porém nesta planta o conceito de produção modular é aplicada de forma parcial.

Definida a forma de produto baseada no conceito de Consórcio Modular, o próximo passo foi à escolha dos parceiros. Para tanto 53 empresas nacionais e internacionais foram analisadas, por meio de um sistema de compra internacional da Volkswagen do Brasil. A análise passou por uma verificação da condição técnica de cada empresa, além dos aspectos do melhor preço oferecido para a realização da tarefa. As compras compartilhadas, coordenadas pela Volkswagen, em vez de serem feitas isoladamente, facilitam a obtenção de economias de escala e melhores preços e condições de pagamento e entrega.

A fábrica da Volkswagen em Resende é a única da montadora que fabrica caminhões no mundo. A empresa começou a sua atividade de fabricação de caminhões e chassis para ônibus aqui no Brasil com a compra da Crysler em 1979 e depois com a fusão com a Autolatina, união da Volkswagen com a Ford no Brasil, na qual adquiriu a tecnologia para o projeto e fabricação de seus produtos.

Um dos objetivos é o repasse de atividades de montagem aos consorciados de forma a permitir a redução dos custos e do tempo de montagem do produto, uma vez que várias tarefas são realizadas em paralelo. Logo, a montagem final está submetida à somente tarefas de dependência prévia, configurando um caminho crítico para a montagem, o contrato entre a montadora, líder do consórcio, e os consorciados, tem um prazo mais elástico. E o relacionamento entre a VW e os consorciados baseia-se na repartição dos investimentos, dos custos, das responsabilidades e dos riscos, o que o diferencia da relação simples de exterioridade proporcionada pela terceirização.

Um dos pontos fundamentais e inovadores do Consórcio Modular é o risco compartilhado entre a montadora e os consorciados. Neste sistema todo o investimento, custos e responsabilidades são compartilhados, criando uma nova repartição do risco vinculado ao negócio. O processo de produção é um processo de valorização de capital e está vinculado a riscos inerentes ao tipo de negócio, já que o mercado está sujeito a variáveis que definem a demanda por um determinado produto. Assim, a produção está ligada diretamente a demanda dos mercados.

Grande parte das máquinas e equipamentos necessários ao funcionamento da planta foram, de início, responsabilidade única e exclusiva dos "modulistas", cabendo à montadora a participação naqueles diretamente empregados na linha de montagem.

Com o sucesso do consórcio, a criação de um elo forte de parceria entre a montadora e os consorciados poderá favorecer novos negócios. Podendo dessa forma estabelecer novos consórcios em outras plantas, tornando o modulista como fornecedor exclusivo global. O pagamento dos modulistas é contabilizado numa frequência diária e baseado nos veículos montados de forma completa e sem problemas de qualidade. No caso de uma não conformidade, a princípio o ressarcimento de todas as perdas dos consorciados é de responsabilidade do modulista causador do problema. Eventuais paradas na linha de montagem também podem ter seus prejuízos assumidos pela empresa causadora. Isso tudo incentiva um sistema produtivo enxuto, ágil e que produza veículos de forma sempre completa, os riscos do investimento realizado pelos fornecedores são mínimos, já que a montadora remunera seus parceiros pela produção realizada e não pelas previsões e tendências da demanda e seus excessos de estoques.

No que diz respeito à divisão do trabalho na fábrica, esta nova configuração reflete-se no número de empregados da Volkswagen que são necessários ao funcionamento do projeto. De um total de 1565 empregados em Resende, apenas 265 são funcionários da Volkswagen, dos quais somente cerca de 60 têm sob sua responsabilidade as atividades do chão-de-fábrica relacionadas ao controle de qualidade, coordenação das atividades e projeto do produto, estando o restante encarregado das áreas de "marketing" e vendas.

A Volkswagen vem passando por uma profunda reforma estratégica de seus negócios. A empresa vem mudando o seu foco, que antes era o volume de participação no mercado para o foco da qualidade de seus produtos, produtividade e lucratividade de suas plantas industriais.

A flexibilidade possibilitada pelo tipo de sistema produtivo adotado por meio da terceirização de módulos ou subconjuntos dos veículos proporcionou às montadoras o máximo de flexibilidade produtiva e de custos. Atualmente, a Volkswagen Caminhões oferece uma variada linha de caminhões, desde cargas leves (05 toneladas) até as pesadas (45 toneladas).

O modelo de Consórcio Modular da Volkswagen Resende, por ser o único no mundo, serve como modelo e benchmark para diversas outras adaptações e rearranjos possíveis nas empresas.



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